A saúde dos nossos rins desempenha um papel fundamental no funcionamento adequado do nosso corpo. Quando problemas graves afetam esses órgãos vitais, pode ser necessário considerar a nefrectomia, um procedimento cirúrgico que envolve a remoção de parte ou do rim inteiro.
Neste guia completo, abordaremos os diferentes tipos de nefrectomia – parcial, total e radical – para ajudar você a compreender melhor as opções disponíveis, os motivos pelos quais esses procedimentos podem ser necessários e o que esperar durante o processo.
Além disso, explicaremos sobre as abordagens minimamente invasivas nas nefrectomias: cirurgia laparoscópica e cirurgia robótica. Explicaremos quais suas indicações e quais as vantagens dessas técnicas em relação à cirurgia aberta e quais as diferenças entre a cirurgia por vídeo ou por robô.
Meu nome é Vítor Eugênio Ribeiro, sou Urologista e Uro-oncologista (CRM: 75.054 / RQE: 60.679), especializado em Cirurgia Robótica e dedico grande parte da minha atuação à ajudar pacientes com câncer em busca da sua cura. Espero que aproveite a leitura e estou à disposição para te atender em consulta caso necessário.
Anatomia do sistema urinário
Antes de entender propriamente sobre as nefrectomias, é interessante compreender o básico da anatomia dos rins e do sistema urinário.
Habitualmente, cada pessoa possui dois rins. Os rins são órgãos em formato de feijão e pesam em média entre 115 e 170g cada. Eles se localizam no retroperitôneo, compartimento abdominal posterior, ou seja, “nas costas”.
A vascularização renal é realizada por no mínimo uma artéria renal e uma veia renal, sendo que são frequentes as alterações do número de vasos na prática. A artéria renal é ramo da aorta e a veia renal é ramo da veia cava, esses vasos são, respectivamente, a principal artéria e veia do corpo humano.
Muito próximo aos rins e localizado logo acima deles estão as glândulas adrenais, ou suprarrenais. As adrenais são órgãos endocrinológicos, ou seja, regulam e produzem hormônios responsáveis por funções diversas, dentre eles: cortisol, catecolaminas e aldosterona.
Os rins filtram o sangue e produzem a urina, esse escoamento da urina é feito através dos ureteres, estruturas cilindricas que ligam cada rim até a bexiga. Também é possível existir mais de um ureter drenando cada rim.
Os rins são cobertos por uma camada de gordura chamada Fáscia de Gerota, em situações de tumores volumosos, essa camada pode ser atingida pelo tumor. A drenagem dos rins é feita pelos gânglios linfáticos perihilares e retroperitoneais, nas situações onde eles estão acometidos por câncer, pode ser necessário realizar a retirada desses gânglios, chamada de linfadenectomia.
Finalizando essa breve revisão, estamos preparados para entender melhor as nefrectomias.
O que é a Nefrectomia Parcial?
A nefrectomia parcial é uma intervenção cirúrgica na qual apenas uma parte do rim é removida. Este procedimento é frequentemente realizado para tratar tumores renais pequenos ou para remover uma parte do rim danificada, preservando a maior parte do órgão saudável.
Uma das principais vantagens da nefrectomia parcial é a preservação da função renal, uma vez que o rim remanescente ainda é capaz de realizar suas funções normais.
A cirurgia pode ser feita por meio de técnicas minimamente invasivas, como a laparoscopia ou robótica, ou por cirurgia aberta, dependendo da complexidade do caso e da experiência do cirurgião.
Indicações da nefrectomia parcial
- Lesões ou Tumores Renais Localizados: A nefrectomia parcial é frequentemente recomendada para tratar nódulos e lesões sólidas renais localizados que são diagnosticados precocemente.
- Doenças Renais Benignas: Em alguns casos, a nefrectomia parcial é realizada para tratar doenças renais benignas que afetam apenas uma parte do rim, como cistos ou infecções crônicas.
- Angiomiolipomas: em alguns casos de angiomiolipomas volumosos, com risco de malignização ou de rompimento, podemos indicar a nefrectomia parcial. No entanto, muitos pacientes com angiomiolipomas podem ser acompanhados sem cirurgia.
- Síndromes Genéticas: pacientes com síndromes genéticas que favorecem o aparecimento de tumores renais, por exemplo Von Hippel Lindau (VHL), devem ser tratados prioritariamente por nefrectomia parcial.
- Rim único: pacientes com rim único devem ser tratados por técnicas poupadoras de rim sempre que possível, como forma de evitar ou postergar, a necessidade de hemodiálise – inevitável em pacientes ánefricos (sem rim).
Vantagens da nefrectomia parcial
- Preservação da Função Renal: Um dos principais benefícios desse procedimento é a preservação da função renal. Uma vez que parte do rim saudável é mantida, a taxa de filtração glomerular potencialmente se mantém estável, permitindo ao organismo regular a pressão arterial e manter o equilíbrio de fluidos de forma mais eficaz.
- Menor Risco de Insuficiência Renal: Comparada à nefrectomia total, a nefrectomia parcial reduz significativamente o risco de insuficiência renal a longo prazo, já que poupa partes funcionantes saudáveis renais.
- Redução do Risco Cardiovascular: a doença renal crônica é um importante fator de risco para eventos cardiovasculares (infarto, acidente vascular cerebral), dessa forma, ao diminuir o risco de impacto na função renal, temos o potencial de reduzir a incidência desse tipo de doenças.
- Menos Impacto na Qualidade de Vida: Manter a função renal adequada pode ajudar a manter uma melhor qualidade de vida após o procedimento.
Segurança da nefrectomia parcial
Uma dúvida muito comum de pacientes que serão submetidos à nefrectomia para tratamento do câncer é sobre a segurança da retirada apenas do tumor quanto aos desfechos oncológicos (cura do câncer).
Existem diversos estudos demonstrando uma sobrevida câncer específica e sobrevida global pelo menos equivalente à nefrectomia radical desde que os princípios oncológicos sejam respeitados. Isso confirma o potencial curativo dessa técnica, mesmo se tratando de uma cirurgia preservadora.
Por outro lado, ao se preservar maior quantidade de parênquima renal existe uma chance discretamente maior de complicações imediatas, como sangramento e fístulas urinárias (“vazamento de urina”). Essa complicações podem ser reduzidas ao utilizar técnicas menos invasivas (laparoscopia ou robótica) e escolhendo um cirurgião com habilidade nesse tipo de cirurgia.
O que é a Nefrectomia Total?
A nefrectomia total, como o nome sugere, envolve a remoção completa de um dos rins, por problemas não relacionados à câncer. A remoção do rim não afeta negativamente a função renal, desde que o rim remanescente esteja saudável.
Na maioria das vezes, essa cirurgia é realizada quando o rim afetado não pode mais funcionar normalmente, seja devido a danos irreversíveis, doença grave ou trauma. Vale a pena ressaltar que nem sempre o rim disfuncional deve ser operado, apenas nos casos onde ele está causando problemas ou tem um potencial de complicações graves.
Outra situação importante na qual ela é realizada é para transplantes renais. Nessa situação, um paciente saudável e com a presença de dois rins em bom estado, doa um rim para outro paciente em situação de hemodiálise. O urologista realizará a nefrectomia (retirada do rim) no primeiro paciente e ,em sequência, realizará o implante no paciente receptor.
Indicações da nefrectomia total:
- Rim com função gravemente prejudicada associado à situações prejudiciais: cálculos renais, infecção, dor.
- Doença renal policística volumosa com rim não funcionante
- Trauma renal irreparável
- Transplante renal (doador)
O que é a Nefrectomia Radical?
A nefrectomia radical é um procedimento mais abrangente, oncológico, que envolve a remoção do rim afetado, bem como do tecido adiposo circundante e, em alguns casos, os gânglios linfáticos e/ou a glândula adrenal.
A nefrectomia radical é comumente realizada no tratamento de tumores renais complexos, volumosos ou nos casos em que para tratar o câncer não é possível preservar o funcionamento adequado do órgão, seja por não ser possível deixar parênquima renal suficiente ou por comprometer seriamente estruturas vitais como veia e artéria renal.
Esse procedimento é mais agressivo do que a nefrectomia parcial, porém, pode ser necessário para o tratamento adequado de casos de câncer renal mais graves ou mais agressivos. Assim como nos outros tipos de nefrectomia, a cirurgia pode ser realizada por via minimamente invasiva, com menor sangramento e recuperação mais precoce.
Indicações da nefrectomia total:
- Nódulos ou tumores renais volumosos
- Câncer renal com invasão de vasos do hilo renal
- Câncer de rim do subtipo medular
- Envolvimento do rim em tumores avançados de outros órgãos: adrenal, cólon, retroperitôneo, fígado, pâncreas.
O Papel da Cirurgia Minimamente Invasiva nas Nefrectomias
As cirurgia minimamente invasiva, incluindo laparoscopia e cirurgia robótica, revolucionaram a abordagem da nefrectomia, oferecendo vantagens como menos dor, recuperação mais rápida e menor risco de complicações.
A cirurgia robótica representa ainda uma evolução da cirurgia videolaparoscópica, oferecendo recursos ainda mais modernos, como visão tridimensional, trazendo ainda mais precisão, delicadeza e possibilitando a realização de procedimentos cada vezes mais complexos.
Vantagens da cirurgia videolaparosópica e robótica
1. Redução do Trauma Cirúrgico:
A cirurgia minimamente invasiva minimiza o trauma nos tecidos circundantes em comparação com a cirurgia aberta tradicional. Isso é particularmente vantajoso na nefrectomia parcial, onde a preservação do máximo de tecido renal saudável é essencial.
2. Menos Dor Pós-Operatória:
Os pacientes submetidos a nefrectomias minimamente invasivas geralmente experimentam menos dor pós-operatória, o que resulta em um período de recuperação mais confortável e uma redução na necessidade de medicações analgésicas.
3. Menos Tempo de Internação:
Nefrectomias minimamente invasivas muitas vezes levam a um tempo de internação mais curto. Os pacientes podem retornar ao conforto de suas casas mais rapidamente, acelerando o processo de recuperação.
4. Recuperação Mais Rápida:
A recuperação após uma nefrectomia minimamente invasiva tende a ser mais rápida em comparação com a cirurgia aberta. Os pacientes podem retomar suas atividades normais, incluindo trabalho e exercícios, em um período mais curto.
5. Melhor Visualização e Precisão:
A cirurgia robótica, em particular, oferece uma visão tridimensional ampliada e maior precisão, o que é valioso na preservação do tecido renal saudável durante a nefrectomia parcial. Os cirurgiões têm maior controle e capacidade de manobra durante o procedimento.
6. Menos Perda Sanguínea:
As técnicas minimamente invasivas estão associadas a uma redução na perda sanguínea durante a cirurgia, o que é crucial para a segurança do paciente.
7. Riscos de Complicações Reduzidos:
A cirurgia minimamente invasiva, quando realizada por cirurgiões com experiência nessas técnicas, geralmente está associada a um risco reduzido de complicações, como infecções e lesões de órgãos adjacentes.
8. Cicatrizes Menos Visíveis:
As incisões usadas na cirurgia minimamente invasiva são menores e resultam em cicatrizes menos visíveis, o que é esteticamente vantajoso para os pacientes.
9. Potencial para Nefrectomia Parcial em Casos Mais Complexos:
Em alguns casos que anteriormente exigiriam uma nefrectomia radical, as técnicas minimamente invasivas, especialmente a cirurgia robótica, permitem a realização da nefrectomia parcial, preservando mais tecido renal saudável.
Em resumo, a cirurgia minimamente invasiva desempenha um papel fundamental na melhoria da eficácia e segurança das nefrectomias, incluindo a nefrectomia parcial. Essas abordagens reduzem o trauma cirúrgico, aceleram a recuperação, minimizam a dor pós-operatória e oferecem melhores resultados estéticos. No entanto, a escolha da técnica cirúrgica ideal depende da avaliação individual do paciente e da experiência do cirurgião.
Conclusão
A escolha do tipo de nefrectomia a ser realizada depende de diversos fatores, incluindo a condição do paciente, o estágio da doença e os objetivos do tratamento. É essencial discutir todas as opções disponíveis com seu urologista, a fim de tomar a decisão mais adequada ao seu caso.
A nefrectomia parcial, total e radical são procedimentos eficazes para tratar uma variedade de condições renais. Com avanços nas técnicas minimamente invasivas, em especial com a cirurgia robótica, a recuperação e os resultados perioperatórios têm melhorado significativamente.
Lembre-se sempre de buscar orientação médica e tomar uma decisão informada em conjunto com sua equipe de saúde para garantir o melhor cuidado possível para seus rins e sua saúde como um todo.
Escolha, sempre que possível, um urologista especializado no tratamento do câncer e em técnicas minimamente invasivas, isso pode garantir resultados ainda melhores no seu tratamento.
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Referências
EAU – Patient Information – Radical Nephrectomy