Existe muita confusão e falta de entendimento sobre os temas fimose, freio curto e postectomia. Nesse artigo apresento cada uma das condições separadamente e forneço tudo o que você precisar saber antes de fazer sua cirurgia ou tratamento.
Anatomia superficial do pênis
O pênis pode ser dividido basicamente em duas partes principais, o corpo e a glande.
A glande é a porção distal do pênis (“cabeça”), é composta de tecido esponjoso e revestida por uma camada de pele elástica chamada de prepúcio.
Quando não é possível expor a glande temos a fimose. Nas situações em que é possível expor a glande mas há uma pele excessiva chamamos de hipertrofia de prepúcio.
Caminhando em direção ao corpo do pênis, temos uma depressão que marca a divisão entre essas duas partes, chamada de sulco balanoprepucial.
O freio, ou frênulo peniano, é uma fina camada de pele que comunica o prepúcio com a glande em sua região dorsal. Essa pequena camada tem a função de auxiliar a exposição da glande (“cabeça”) durante a ereção. Em alguns casos, essa região pode ser anormalmente curta e causar lesões ou dor na relação sexual.
Por fim, o corpo do pênis é a parte proximal, ele é coberto por uma fina camada de pele e possui internamente três regiões cilíndricas, dois corpos cavernosos e um corpo esponjoso, que serão responsáveis pela ereção e pelo transporte de urina, respectivamente.
Fimose
A fimose se caracteriza pela incapacidade de retrair o prepúcio e expor completamente a glande.
A dificuldade em retrair o prepúcio ou até mesmo a fimose é normal (fisiológica) ao nascimento e durante os primeiros anos de vida. Ocorre uma resolução natural na maioria dos casos com o envelhecimento, principalmente até os 5 anos.
A retração do prepúcio possível em 50% dos meninos com 1 ano de idade e 89% aos 3 anos. A fimose estará presente em 8% dos meninos aos 7 anos e em apenas 1% dos jovens de 18 anos.
A fimose pode ser classificada em duas formas: primária e secundária. A primária retrata a condição descrita anteriormente, sendo uma forma presente desde o nascimento (congênita). A forma secundária (patológica) é uma condição adquirida, na qual um paciente sem a doença adquire um estreitamento devido à cicatrizes ocasionadas por múltiplas infecções no pênis (balanopostites) ou através de doenças inflamatórias (balanite xerótica obliterante).
Complicações da fimose
A fimose pode estar associada com algumas outras patologias, são elas: infecções do pênis (balanopostites); infecções urinárias; câncer de pênis; parafimose.
O câncer de pênis está intimamente relacionado com a má higiene peniana durante a vida. A incidência de câncer de pênis é muito baixa em pacientes que realizaram a postectomia durante a infância. Por outro lado, a cirurgia não deve ser indicada em crianças com o objetivo de prevenir essa condição.
Parafimose
A parafimose é uma condição em que um estreitamento do prepúcio comprime (“enforca”) a glande, ocasionando edema e dor. Essa condição pode ocorrer em qualquer idade e se trata de uma emergência médica, sendo necessário redução manual ou cirurgia imediata.
Tratamento da fimose
A fimose primária pode ser tratada de maneira conservadora (não cirúrgica) nos primeiros anos de vida. O tratamento com pomadas à base de corticoides duas vezes ao dia por 4-8 semanas possui uma eficácia >80%. Esse tratamento pode ser iniciado a partir dos 2 anos ou de acordo com as preferências familiares. Aderências balanoprepuciais intensas podem dificultar o tratamento clínico.
A cirurgia geralmente é indicada em crianças maiores que não responderam ao tratamento com corticoides; opção familiar; infecções urinárias de repetição e/ou anormalidades genitourinárias congênitas; fimose em adultos.
Todos os casos de fimose secundária devem ser tratados com cirurgia.
A postectomia não deve ser indicada em casos de mal formações congênitas penianas que necessitem de reparo cirúrgico (ex: hipospádia, cordee, curvaturas penianas, etc). A pele do prepúcio pode ser utilizada no tratamento dessas condições.
Freio curto
O frênulo peniano, ou popularmente “freio”, é uma comunicação normal do prepúcio com a glande. Em alguns casos, o paciente pode apresentar essa região anormalmente curta, gerando uma tensão. Essa tensão pode ocasionar uma deformação na anatomia normal como na foto, dor, lesões ou até ruptura espontânea com sangramento moderado.
Não existe tratamento medicamentoso ou com pomadas para essa condição, o tratamento, quando necessário, é cirúrgico. A cirurgia consiste em uma plástica para alongamento do freio, chamada de frênuloplastia. Essa cirurgia é simples, pode ser realizada com anestesia local, com rápida recuperação e retorno as atividades profissionais e sexuais.
A indicação de cirurgia é individualizada e deve considerar o desconforto estético, físico e impacto emocional causados ao paciente. Essa condição isolada não trás nenhum prejuízo significativo à longo prazo e não está relacionada com câncer.
Não é recomendado a tentativa de romper o freio sem auxílio médico por maior potencial de infecção e de prejuízo estético. Nos casos em que a ruptura do freio ocorre espontâneamente, é indicado realizar curativo compressivo e gelo para estancar o sangramento, depois, lavar com água e sabão e não aplicar pomadas ou substâncias (sal, café, água oxigenada, etc) por conta própria. Recomendo consulta com o urologista nos dias seguintes para melhor esclarecimento e avaliação do caso.
Hipertrofia de prepúcio
A hipertrofia de prepúcio nada mais é do que o excesso de pele prepucial sem a presença de estreitamento. Nesses casos é possível expor completamente a glande sem grandes dificuldades.
O excesso de pele pode incomodar o paciente por motivos estéticos ou até mesmo dificultar a higienização adequada do pênis, com acúmulo de esmégma e infecções de repetição (balanopostite).
O tratamento dessa condição deve ser extremamente individualizado visto que na maioria das vezes não existe uma doença associada. Quando indicada, o tratamento é cirúrgico através da postectomia.
Postectomia
A postectomia é uma das cirúrgias mais antigas do múndo, existindo relatos da sua realização há cerca de 6000 anos no Egito.
A cirurgia pode ser realizada em qualquer idade e consiste na retirada do excesso de pele do prepúcio, em conjunto com o anel fibrótico nos casos de fimose, associada à frênuloplastia – plástica do freio. O procedimento não é complexo e pode ser realizado com anestesia local após bloqueio da inervação peniana com anestésico.
As indicações de cirúrgia são:
- Falha no tratamento conservador em crianças
- Opção familiar
- Fimose secundária, ou patológica.
- Fimose em adultos
- Dor na relação associada ao excesso de pele
- Balanopostites (infecções) de repetição.
- Motivos estéticos
A postectomia está associada à diversos benefícios potenciais, incluíndo redução na taxa de infecções urinárias (crianças), redução dos episódios de balanopostite, prevenção do câncer de pênis (adultos), redução da contaminação por DSTs ( por ex: HIV) e contribui para evitar o desenvolvimento de fimose secundária.
As taxas de complicações da postectomia são muito baixas, variando de 0,2% à 5%. Pode ocorrer um pequeno sangramento que dure os primeiros dias e têm resolução espontânea, desconforto por algumas semanas, principalmente durante à ereção, também é comum.
A recuperação é rapida, durando aproximadamente 1-2 dias em crianças menores e 4-5 dias em adultos e crianças maiores. A ereção, apesar de inevitável, não deve ser estimulada na primeira semana após a cirurgia, gelo pode auxilar nesse processo. As relações sexuais são liberadas após a cicatrização completa, que dura aproximadamente 30 dias.
Realize sempre a escolha cuidadosa do médico responsável pela cirúrgia e escolha especialistas no assunto.
Referências
Information for Patients – Phimoses