Sangue na urina: como descobrir a causa e quando pensar em câncer.

A presença de sangue na urina pode ser alarmante e levanta uma série de preocupações. Embora haja várias causas para o sangramento urinário, incluindo condições benignas, é natural se perguntar se isso pode estar relacionado ao câncer. Este artigo explora a complexa questão do sangue na urina, discutindo seus tipos, possíveis causas, sintomas associados e, o mais importante, quando é apropriado considerar a possibilidade de câncer. Vamos explorar os tópicos mais importantes sobre a hematuria e fornecer informações valiosas para ajudá-lo a tomar decisões informadas sobre sua saúde.

Meu nome é Vítor Eugênio Ribeiro, sou Urologista e Uro-oncologista (CRM: 75.054 / RQE: 60.679), especializado em Cirurgia Robótica e dedico grande parte da minha atuação à ajudar pacientes com câncer em busca da sua cura. Espero que aproveite a leitura e estou à disposição para te atender em consulta caso necessário.

Hematúria, o que é?

A hematúria é um termo técnico médico que significa sangue na urina, ela pode ser classificada como microscópica ou macroscópica, de acordo com a presença de sangue visível ou apenas através de exames.

A presença de sangue na urina geralmente revela algum problema oculto, variando desde inflamações e processos infecciosos simples do trato urinário até causas graves e potencialmente fatais, como câncer.

As causas variam de acordo com a idade e fatores de risco associado e geralmente revelam algum transtorno dos rins, ureteres, bexiga ou uretra.

Hematúria microscópica

A hematúria microscópica é a presença de sangue detectada apenas através de exames de urina, sem alterar a coloração normal da urina.

A hematúria microscópica é definida pela presença de mais de 3 hemácias por campo no exame simples de urina ( EAS ou urina tipo 1).

Apesar de não ser visível, esse tipo de sangramento na urina também pode significar alguma doença e aconselhamos a realização de consulta médica em todos os casos. A detecção precoce de doenças minimiza o risco de impactos importantes à saúde.

Pacientes com hemácias na urina e sem fatores de risco para neoplasias podem ser acompanhados com exames de imagem não invasivos (ex: ultrassom) e/ou repetição do exame de urina em algumas semanas.

Sangue na urina o que pode ser

As causas mais comuns de sangue na urina são:

• Infecção de urina – cistite ou pielonefrite
• Câncer de bexiga
• Câncer de rim, pelve renal ou ureter
• Câncer de próstata
• Hiperplasia prostática benigna
• Cálculos renais
• Exercícios físicos extenuantes
• Glomerulonefrites
• Doenças renais hereditárias
• Traumas

É importante ressaltar que todo sangramento na urina deve ser investigado. Além disso, quanto mais velho o paciente e quanto mais fatores de risco presentes, maior a chance de câncer.

A principal causa de sangramento visível na urina após os 50 anos são os tumores do trato urinário.

Fatores de risco para câncer

Um dos principais objetivos durante a investigação de pacientes com sangramento na urina é afastar malignidade e , quando presente, proporcionar o tratamento de maneira mais breve possível.

Os principais fatores de risco para câncer do trato urinário são:

• Tabagismo – passivo ou ativo
• Idade – quanto mais velho, maior o risco.
• Sexo – pior em homens
• Intensidade do sangramento – hematúria macroscópica (visível) e com coágulos têm mais risco.
• Ocupacional – trabalho em indústrias de químicos, corantes e tintas.
• História de radioterapia prévia
• História familiar de Síndrome de Lynch

Sangramento na urina e uso de anticoagulantes

O uso de antiplaquetários ( Aspirina, Clopidogrel, etc ) e de anticoagulantes ( Warfarina, Xarelto, etc) pode teoricamente favorecer ou até mesmo precipitar sangramentos na urina.

Por outro lado, os pacientes com uso dessas medicações possuem o mesmo risco de malignidade que a população global e devem ser investigados da mesma forma.

Não se deve atribuir a hematúria, mesmo que microscópica, ao uso de medicamentos sem nenhuma investigação adicional.

Investigação do sangue na urina

Os exames diagnósticos utilizados para avaliação da hematúria são: citologia urinária, cistoscopia, ureteroscopia, ultrassom, tomografia e ressonância magnética.

Cistoscopia

É o principal exame utilizado na investigação de hematúria, especialmente na detecção de tumores de bexiga.

Durante a cistoscopia, será introduzida uma pequena câmera através da uretra até a bexiga, esse exame permite ao urologista avaliar visualmente a uretra, próstata (nos homens), bexiga e poderá detectar e , se necessário e viável, até biopsiar qualquer área alterada.

Uma analogia que geralmente faço para facilitar o entendimento é explicar que a cistoscopia é a “endoscopia da bexiga”.

A cistoscopia também possui um importante papel na investigação de pacientes com sangramento persistente na urina e com exames de imagem normais, visto que, a cistoscopia pode detectar tumores planos ou muito pequenos, não visíveis no ultrassom, tomografia ou ressonância magnética.

Apesar de ser um exame invasivo, a cistoscopia não pode ser completamente substituída por nenhum outro exame na investigação e no acompanhamento de pacientes do câncer de bexiga.

Ureteroscopia

A ureteroscopia possui princípio semelhante ao da citologia.

O exame funciona com a introdução de uma pequena câmera por dentro da via urinária e será introduzido em um ou nos dois ureteres, investigando também o trato urinário superior (acima da bexiga).

Quando for necessário avaliar apenas o ureter final, próximo à bexiga, será utilizando um aparelho chamado ureteroscópio rígido, se for necessário avaliar também o ureter superior, a pelve e os cálices renais, será utilizado o ureteroscópio flexível.

Durante a realização da ureteroscopia é possível realizar biópsias e , se for indicado, realizar o tratamento com laser de tumores selecionados de trato urinário superior.

Citologia urinária

O exame de citologia urinária é utilizado através da avaliação de uma pequena quantidade de urina obtida pela micção espontânea ou durante a cistoscopia.

Nesse exame o patologista irá avaliar a urina através do microscópio em busca da identificação de células cancerígenas.

É um exame pouco sensível, mas muito específico, especialmente para tumores de alto grau. Isso significa que, um exame normal não descarta a presença de tumor, mas um exame positivo muito provavelmente representa a presença de uma neoplasia no trato urinário, mesmo que oculta.

Ultrassom

O ultrassom é um bom exame para investigação inicial da hematúria, é um exame não invasivo, simples e acessível.

Durante o ultrassom o médico será capaz de visualizar a bexiga, a próstata e os rins. O exame pode detectar a presença de cálculos renais, hiperplasia prostática, tumores de bexiga, rim e pelve renal.

Tomografia computadorizada

A tomografia computadorizada com contraste é um dos principais exames na avaliação de pacientes com hematúria e alto risco para câncer.

Através desse exame é possível avaliar todo o abdome do paciente, incluindo a via urinária, em busca de alterações. O exame contrastado pode ainda detectar falhas de enchimento em qualquer parte do trato urinário, revelando estenoses (estreitamentos) ou tumores associados.

Além disso, a tomografia de abdome é o melhor exame para detecção de cálculos renais e serve tanto para detecção quanto para planejamento do tratamento cirúrgico, quando indicado.

Apesar de ser um bom exame, a tomografia não é necessária em todos os pacientes, especialmente nos de baixo risco com episódio único de hematúria microscópica.

Ressonância Magnética

A ressonância magnética é um exame utilizado como alternativa à tomografia de abdome na avaliação inicial de sangramentos urinários.

Isso se deve à menor disponibilidade, maior custo e maior tempo necessário para realização do exame quando comparada à tomografia. Além disso, a ressonância não é um bom exame para avaliação de cálculos renais, limitando seu uso para uma etiologia importante de hematúria.

Por outro lado, a ressonância não emite radiação podendo ser utilizada em pacientes gestantes; não necessita de contraste iodado, podendo ser utilizada em pacientes alérgicos ou com disfunção renal leve à moderada.

A ressonância magnética também pode ser utilizada para avaliação anatômica de tumores de bexiga com suspeita de invasão muscular, tumores ureterais e renais.

Conclusão

A presença de sangue na urina (hematúria) pode significar um sinal de alerta de problemas graves, incluindo câncer. Existem diversos exames e estratégias que podem ser utilizadas à depender do contexto clínico e risco do paciente.

Consulte sempre um urologista ou médico especializado para um diagnóstico e tratamento adequados em caso de sangue na urina, e não ignore a possibilidade de câncer, especialmente se o sangue na urina ocorrer sem dor

A detecção precoce pode salvar vidas.

Referências

Microhematuria: AUA/SUFU Guideline (2020)

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