As hérnias abdominais são protusões de conteúdos abdominais, por exemplo: gordura, intestino ou outras estruturas, através de defeitos adquiridos ou congênitos na parede abdominal.
Existem diversos tipos de hérnias e sua nomenclatura é definida pelo local onde esses defeitos acontecem, são alguns tipos de hérnia: inguinal, umbilical, femoral, incisional.
Esse artigo terá como foco as hérnias inguinais, abordando todos os aspectos importantes desde o diagnóstico até o tratamento cirúrgico dessa condição.
Meu nome é Vítor Eugênio Ribeiro, sou Urologista e Uro-oncologista (CRM: 75.054 / RQE: 60.679), tenho como uma das minhas principais área de atuação à Cirurgia Minimamente Invasiva, Robótica e Laparoscópica. Espero que o conteúdo à seguir seja útil e estou a disposição para te atender em consulta se necessário.
O que é e onde ficam as hérnias inguinais?
Uma hérnia inguinal é uma condição em que uma parte do intestino ou de outro tecido protrui através de uma abertura na parede abdominal, localizada na região da virilha. Para entender melhor onde as hérnias inguinais ficam, é útil conhecer a anatomia da região inguinal.
A região inguinal é a área localizada na parte inferior do abdômen, na transição entre o abdômen e a coxa. É uma área de passagem para vasos sanguíneos e nervos que se estendem do abdômen para a coxa. Há duas principais partes na região inguinal:
- Canal Inguinal: Este é um canal anatômico na parede abdominal que permite que estruturas como os vasos sanguíneos e o cordão espermático (em homens) passem da cavidade abdominal para a área da virilha. O canal inguinal é uma área naturalmente frágil, especialmente suscetível a enfraquecimento.
- Anéis Inguinais: Há dois anéis na região inguinal: o anel inguinal interno e o anel inguinal externo. O anel inguinal interno está localizado na parede abdominal interna, enquanto o anel inguinal externo está localizado mais externamente, próximo à superfície da pele. Esses anéis fazem parte do sistema de suporte da parede abdominal.
A hérnia inguinal ocorre quando uma fraqueza ou abertura nesses anéis permite que o tecido abdominal, geralmente parte do intestino, protrua através do canal inguinal. Isso cria um inchaço visível ou uma protuberância palpável na região da virilha. Essa protrusão é o que chamamos de hérnia inguinal. As hérnias inguinais podem ocorrer tanto em homens quanto em mulheres, embora sejam mais comuns em homens.
Tipos de hérnia inguinal
Talvez você já tenha ouvido falar da classificação de hérnias e sobre hérnias diretas ou indiretas.
Essa classificação diz respeito principalmente à fisiopatologia das hérnias, ou seja, para o entendimento de como a hérnia aconteceu. Por outro lado, apesar dessa classificação, ambos os tipos de hérnia possuem tratamento cirúrgico muito semelhante.
Hérnia inguinal indireta
A hérnia inguinal indireta é representanda pela passagem de conteúdo através do anel inguinal interno, lateral e inferiormente à artéria epigástrica inferior.
As hérnias desse tipo são frequentemente congênitas, ou seja, estão presentes desde o nascimento, podem acontecer em homens e mulheres, são mais comuns do lado direito.
Hérnia inguinal direta
As hérnias inguinais diretas acontecem por uma fraqueza do assoalho da parede abdominal, em uma área chamada Triângulo de Hesselbach, medialmente à artéria epigástrica inferior.
Esse tipo de hérnia corresponde à 30-40% das hérnias inguinais, está presente em ambos os sexos e geralmente acontecem em indivíduos mais velhos.
Fatores de risco para hérnia inguinal
Existem alguns fatores que aumentam o risco de aparecimento das hérnias inguinais, são eles:
- Sexo masculino: homens tem um risco de 8-10 vezes maior.
- Idade: com o envelhecimento a parede abdominal se torna mais frágil
- História familiar de hérnia
- História de prostatectomia radical: o tratamento cirúrgico do câncer de próstata aumenta o risco, especialmente para cirurgias abertas.
- Deficiências do metabolismo de colágeno.
- Fatores que levam à esforço abdominal crônico: tosse crônica, tabagismo, constipação crônica, hiperplasia prostática, gravidez.
Sintomas
Os sintomas mais comuns associados às hérnias inguinais são:
- Dor, peso ou desconforto na região da virilha, principalmente em atividades que exigem esforço abdominal como atividade física e tosse
- Inchaço, abaulamento ou nódulo palpável na região da virilha principalmente ao ficar em pé, realizar esforço abdominal ou ao final do dia.
Limitações relacionadas com a hérnia inguinal e principais dúvidas
Os sintomas associados à hernia inguinal podem afetar a qualidade de vida dos pacientes e em alguns casos geram preocupações como:
- Quem tem hérnia inguinal pode ter relação sexual?
- Quem tem hérnia inguinal pode fazer caminhada ou corrida?
- Quem tem hérnia inguinal pode fazer musculação?
- Hérnia inguinal é perigoso?
- O que acontece se não tratar a hérnia inguinal?
Habitualmente pacientes com hérnias inguinais podem realizar atividades físicas, sejam elas sexuais, esportes ou academia, inclusive a perda de peso gerada por exercícios é aconselhada. Essas atividades apesar de não serem contraindicadas podem ocasionar algum tipo de desconforto, no caso de dor ou sintomas intensos, recomendo procurar atendimento.
De forma geral, hérnias inguinais pequenas e assintomáticas não costumam representar um grande risco imediato. Por outro lado, hérnias maiores ou sintomáticas possuem maior risco e merecem tratamento cirúrgico.
Diagnóstico e detecção da hérnia inguinal
O principal exame para o diagnóstico de hérnia inguinal é o exame físico realizado pelo médico com a palpação da região inguinal, esse exame simples e sem custo adicional consegue identificar a maior parte das hérnias.
Em algumas situações especiais, especialmente quando o diagnóstico não é claro pelo exame físico, podem ser utilizados alguns exames de imagem.
Ultrassom na hérnia inguinal
O ultrassom é o exame inicial mais indicado para identificação de hérnias ocultas, também pode ser utilizado para aumentar a acurácia do exame clínico ( esse estudo mostrou um aumento de detecção de 80 para 96% de hérnias ocultas ).
O ultrassom é um exame simples, de baixo custo, amplamente disponível. Por outro lado, é um exame dinâmico e operador dependente, dessa forma, pode ser necessário complementação com algum outro método de imagem.
Tomografia e Ressonância Magnética para hérnia inguinal.
Na maior parte das vezes não são necessários esses exames para o diagnóstico de hérnia inguinal.
Por outro lado, em casos que se mantiveram duvidosos mesmo após exame clinico e ultrassom, ou em casos de hérnias complexas e volumosas com necessidade de avaliação anatômica mais detalhada, podemos indicar algum desses exames.
Tanto a tomografia computadorizada quanto a ressonância magnética fornecerão imagens estáticas de alta qualidade, podendo detectar hérnias inguinais, femorais ou até mesmo algumas complicações.
Por fim, existe também a situação na qual o paciente detecta acidentalmente uma hérnia inguinal por tomografia ou ressonância realizados por outro motivo, sem sintomas. Nesses casos, a necessidade do tratamento não é obrigatória e deverá ser discutida com seu médico considerando as particularidades do seu caso.
Complicações da hérnia inguinal
As hernia inguinais, epecialmente as sintomáticas e volumosas, se não tratadas adequadamente, podem levar a complicações sérias. Algumas das complicações possíveis incluem:
- Estrangulamento da Hérnia: Isso ocorre quando o tecido abdominal protruso fica preso na abertura da hérnia, cortando o suprimento de sangue para a área. O estrangulamento da hérnia é uma emergência médica e pode resultar em dor intensa, náusea, vômitos e até mesmo necrose aos tecidos.
- Obstrução Intestinal: Se uma alça do intestino fica aprisionada na hérnia, pode ocorrer uma obstrução intestinal. Isso pode levar a sintomas como dor abdominal, vômitos, constipação e distensão abdominal.
Tratamento da hérnia inguinal
O tratamento da hérnia inguinal é essencial para aliviar os sintomas, evitar complicações e melhorar a qualidade de vida do paciente. As opções de tratamento variam de medidas não cirúrgicas a intervenções cirúrgicas, e a escolha depende de diversos fatores, incluindo o tipo de hérnia, a gravidade dos sintomas e a saúde geral do paciente.
Tratamento não cirúrgico
- Monitoramento: Em alguns casos, especialmente se a hérnia for pequena e assintomática, o médico pode optar por monitorar a condição ao longo do tempo. Isso é comum em pacientes idosos ou naqueles com múltiplas condições médicas, para quem a cirurgia pode ser arriscada.
- Uso de Dispositivos de Suporte: Para hérnias inguinais pequenas ou para pacientes que não são candidatos à cirurgia, o uso de uma cinta abdominal ou de suporte de hérnia pode ser recomendado. Esses dispositivos ajudam a manter a hérnia no lugar e podem aliviar o desconforto, mas não a corrigem permanentemente.
Em todos os tipos de acompanhamento não cirúrgico é recomendável manter hábitos de saúde equilibrados e realizar perda de peso e fortalecimento muscular.
Tratamento cirúrgico
O tratamento cirúrgico é a principal forma de tratamento da hérnia inguinal e a única forma definitiva de resolver o problema.
A cirurgia pode ser realizada de forma aberta ou por métodos minimamente invasivos: cirurgia videolaparoscópica ou robótica.
Cirurgia aberta
A cirurgia aberta é a forma mais antiga e muito utilizada para o tratamento de hérnias inguinais.
Nessa cirurgia é realizada uma incisão maior do lado da hérnia, ou dos dois lados se for bilateral, realizada a correção da hérnia e posicionada uma tela sobre a aponeurose dos músculos da região inguinal.
A cirurgia por via aberta possui a mesma efetividade da cirurgia por videolaparoscopica ou robô, porém, está associada à recuperação mais lenta e maior dor pós operatória.
Cirurgia por videolaparoscopia
A cirurgia de hérnia inguinal por videolaparoscopia tem se tornado um padrão, sendo indicada na maioria dos casos.
As principais vantagens associadas à esse técnica são incisões menores e mais estéticas, menos dor pós operatória e recuperação mais rápida. Outra particular vantagem é a possibilidade de realizar a investigação e tratamento de ambas as regiões inguinais sem a necessidade de incisões adicionais.
A taxa de sucesso de cirurgias videolaparoscópicas é semelhante à da cirurgia aberta desde que o cirurgião tenha expertise nesse tipo de tratamento. A cirurgia por videolaparoscopia também utiliza telas.
Uso de telas
O uso de telas é praticamente o padrão se tratando de cirurgias para correção de hérnias inguinais, tanto por via aberta quanto por videolaparoscopia.
O uso de telas diminui a recorrência da hérnia inguinal e deve ser recomendado na grande maioria dos casos. O uso da tela é seguro e dificilmente resulta em complicações.
Recuperação pós operatória
O período de recuperação após a cirurgia de reparo da hérnia varia de acordo com a técnica utilizada e a saúde geral do paciente. Geralmente, os pacientes podem retomar suas atividades normais gradualmente após algumas semanas, mas é importante seguir as orientações do médico quanto à atividade física e cuidados com a incisão.
Na minha prática, o paciente geralmente recebe alta no mesmo dia. Pode retornar ao trabalho em 1-2 semanas e para atividades físicas mais intensas em 4-6 semanas.
A decisão de tratamento deve ser individualizada e discutida com o médico, levando em consideração os benefícios, riscos e expectativas do paciente. O tratamento oportuno da hérnia inguinal é fundamental para evitar complicações graves, como estrangulamento da hérnia ou obstrução intestinal. Portanto, se você suspeitar que tem uma hérnia inguinal, consulte um profissional de saúde para uma avaliação e discussão das opções de tratamento.
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Referências
European Hernia Society Guidelines
Update of the international HerniaSurge guidelines for groin hernia management